Escolas adotam IA, mas professor continua indispensável, aponta estudo da ANEC

A presença da inteligência artificial (IA) nas escolas brasileiras já deixou de ser tendência e tornou-se realidade consolidada. Um levantamento da Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC), realizado com 91 instituições de ensino, revela que 78,1% delas já utilizam ou testam ferramentas de IA no cotidiano escolar. A transformação digital avança rapidamente, mas com um desafio central: como preservar a qualidade da relação professor-aluno em meio às novas tecnologias?

Com predominância de respostas da região Sudeste (57,1%), a pesquisa abrange principalmente escolas de ensino fundamental (86,8%) e médio (82,4%). A ampla adesão à IA vem acompanhada de políticas de uso ainda em construção: 58,3% das instituições já permitem ou incentivam seu uso com diretrizes próprias, enquanto 35,2% ainda não definiram regras específicas. O índice de proibição total é baixo (6,5%), o que revela uma postura de abertura e adaptação gradual.

Quando questionadas sobre os efeitos da tecnologia nas relações humanas, 65,9% das escolas avaliam o impacto como positivo ou muito positivo. Para muitas delas, a IA tem favorecido a comunicação, o engajamento e a personalização das aulas. Em 22% das instituições, a interação entre alunos e professores melhorou de forma perceptível, enquanto 20,9% não identificaram prejuízos no vínculo.

Ainda assim, 18,7% relatam enfraquecimento da relação, e a incerteza aparece como ponto sensível: 38,5% das respostas demonstram dúvidas sobre os efeitos a longo prazo. Para os gestores, o fator determinante é a intencionalidade no uso — a tecnologia pode fortalecer ou afastar, dependendo da mediação pedagógica.

“Isso demonstra que, quando bem planejado e acompanhado pelos educadores, o uso dessas ferramentas — incluindo a inteligência artificial — tende a fortalecer o aprendizado. Portanto, o papel da escola e do professor permanece central, garantindo que a tecnologia seja um meio, uma ferramenta que potencializa a reflexão, a autonomia e o desenvolvimento integral dos estudantes”, afirma Irani Rupolo, diretora-presidente da ANEC.

Irani Rupolo, da ANEC: Papel do educador permanece central

O estudo aponta ainda uma mudança no tipo de obstáculo vivido pelas escolas. Se antes o problema era acesso a equipamentos ou conectividade, agora a barreira está no uso inadequado dos recursos tecnológicos e na formação tecnológica e treinamento dos docentes.

“Percebe-se que o uso da inteligência artificial não é visto como uma ameaça ao papel do professor, mas como um recurso que pode potencializar sua atuação na formação dos estudantes. Diante disso, 70,4% das instituições já oferecem algum tipo de formação tecnológica aos docentes, e mais 17,6% estão planejando essa oferta para 2026. Enquanto 19,8% reforçam espaços de escuta, potencializando o papel do docente como mediador crítico e afetivo”, complementa a gestora.

Perda de foco e uso indiscriminado foram apontados como os principais desafios. Em muitas instituições, o excesso de confiança dos alunos nas ferramentas digitais enfraquece práticas como a escuta ativa e a atenção ao professor, o que repercute no ritmo das aulas e na construção de vínculos.

Para enfrentar esses desafios, as escolas têm reagido com ações centradas nas relações humanas. As prioridades incluem metodologias ativas, projetos interdisciplinares e iniciativas voltadas ao acolhimento e aos vínculos socioemocionais.

Professor segue no centro da experiência educativa

A pesquisa conclui que a IA não é percebida como substituta do professor, mas como ferramenta complementar. A mediação humana continua sendo o elemento que garante sentido, acolhimento e criticidade no processo de aprendizagem.

As instituições reconhecem que a tecnologia veio para ficar, mas destacam que seu uso deve estar “a serviço da aprendizagem significativa”, e não em lugar do encontro humano. Nesse cenário, o professor deixa de ser apenas transmissor de conteúdo e assume o papel de mediador afetivo e estratégico.

“O futuro da educação não está em escolher entre a inteligência artificial ou o professor, mas em uni-los como aliados para formar estudantes mais críticos, criativos. Não perdemos o foco que a inteligência humana é o centro para o desenvolvimento da pessoa, que sua formação deve ser integral e pautada nos princípios cristãos. Percebemos com o estudo da ANEC que a IA apoia o processo, mas quem transforma vidas são os professores. O educador continua sendo o coração pulsante dos espaços educativos”, reforça.

Educação digital com rosto humano

O panorama traçado pela ANEC revela um setor em transição madura: escolas que adotam tecnologia de forma crescente e já se preocupam em garantir que a inovação não dilua a essência do vínculo educativo. Em vez de excluir a IA, as instituições procuram integrá-la a projetos que reforcem a presença, a colaboração e a criticidade.

“O verdadeiro desafio não é apenas incorporar a IA como recurso, mas repensar radicalmente a configuração escolar. A escola precisa decidir se terá coragem de transformar a IA em oportunidade para reimaginar a educação, enfrentando as tensões que ela impõe e assumindo o compromisso de formar sujeitos críticos, criativos e plenamente humanos”, diz.  

A grande virada, segundo a gestora, não está em resistir à tecnologia, mas em usá-la para “fortalecer sujeitos críticos, criativos e plenamente humanos”.

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