Em um mercado em constante evolução, a inteligência artificial tem se destacado como uma ferramenta essencial também na produção de eventos corporativos. A automatização de tarefas, gestão eficiente de cronogramas, personalização de experiências e insights baseados em dados são algumas das transformações que essa tecnologia proporciona ao setor.
De fato, o uso da inteligência artificial no setor de eventos já deixou de ser promessa futurista para se tornar uma revolução silenciosa, porém transformadora.
“O ponto mais fascinante é que a IA, ao contrário do que muitos imaginam, não veio substituir o toque humano, mas sim potencializá-lo, adicionando inteligência de dados, personalização e eficiência a todos os processos que envolvem experiências presenciais ou digitais”, avalia Marcelo Senise, presidente do IRIA (Instituto Brasileiro para a Regulamentação da Inteligência Artificial)
A IA pode atuar desde a concepção do evento, analisando tendências e perfis de público para sugerir formatos, temas e até agendas sob medida, até a experiência individualizada do participante, por meio de chatbots capazes de oferecer informações em tempo real, sugestões de networking e recomendações personalizadas de palestras, stands e atividades.
Ferramentas de análise preditiva, por exemplo, preveem demandas logísticas, otimizam o uso do espaço e antecipam gargalos, o que eleva exponencialmente a qualidade operacional do evento e reduz custos — um sonho antigo do setor.
“Além disso, com recursos de processamento de linguagem natural e reconhecimento de sentimentos, a IA permite monitorar em tempo real o engajamento do público e calibrar a experiência à medida que ela acontece, adaptando conteúdos, dinâmicas, temperatura do ambiente virtual ou físico, tudo de maneira invisível para o usuário final, mas estrategicamente precisa para o organizador”, afirma Senise.
A Panda Inteligência em Eventos, sediada em Belo Horizonte, adota a IA para redefinir a concepção e execução de eventos.
A Panda iniciou sua trajetória com a IA no final de 2022, aplicando soluções simples para a geração de imagens e textos em apresentações para clientes. Em 2023, a empresa expandiu o uso da tecnologia para o desenvolvimento de identidades visuais, key visuals e peças de design, tornando a IA uma aliada indispensável na entrega criativa.
“Nossa experiência com IA começou no final de 2022, com aplicações simples para geração de imagens e textos em apresentações a clientes. Rapidamente sua utilização se expandiu para o desenvolvimento de identidades visuais, key visuals e peças de design, tornando-se uma grande aliada nos nossos processos”, explica o diretor de operações e marketing da Panda, Eduardo Zech.
Em 2024, a empresa intensificou a utilização de ferramentas como Midjourney, Remini, Runway, Firefly e ChatGPT, abrangendo áreas além do departamento criativo, incluindo marketing, produção, planejamento, administrativo e financeiro. Essa integração resultou em processos mais fluidos e organizados, permitindo que a equipe se concentrasse em etapas que exigem a expertise humana.
“Com o uso dessas ferramentas, percebemos maior fluidez, integração e organização nos nossos processos e entregas. Redirecionamos equipe e energia para as etapas que dependem da capacitação dos nossos profissionais”, contextualiza Zech.
Diferenciais
A adoção da IA pode proporcionar vantagens competitivas significativas, como maior agilidade nos processos, redução de custos operacionais e entregas mais inovadoras.
Conforme Zech, a possibilidade dos clientes visualizarem detalhes do projeto antes da execução reduziu retrabalhos e alinhou ainda mais as expectativas às entregas finais.
“A IA nos permite inserir o cliente dentro do processo criativo desde o início. Ele pode acompanhar conceitos e ajustes em tempo real, o que reduz refações e melhora significativamente a experiência”, afirma o executivo.
Parceria
Vale ressaltar, diz Senise, que IA em eventos só faz sentido quando conectada à essência: provocar encontros, gerar memórias e estimular relacionamentos.
“A tecnologia, aqui, é um superpoder — mas o protagonista continua sendo o ser humano e a emoção genuína que só um evento bem-feito é capaz de proporcionar”, considera Senise.
Para ele, não se trata de uma substituição, mas de uma potência.
“O grande desafio e oportunidade está justamente em equilibrar algoritmo e afeto, análise e intuição, automação e criatividade. Quem entender e aplicar isso primeiro vai liderar não só o futuro dos eventos, mas, em certa medida, a própria forma como nos conectamos como sociedade”, reforça Senise.
Zech concorda que a IA deve ser vista como uma aliada que potencializa as habilidades humanas, e não como uma ameaça aos postos de trabalho. Ele diz acreditar que a capacitação contínua é fundamental para que os profissionais aproveitem ao máximo os recursos que a IA oferece.
“Entendemos que a IA não é uma ameaça aos profissionais. O importante aqui é que os profissionais se capacitem cada vez mais para poderem explorar ao máximo todos os recursos e benefícios que a IA nos oferece”, observa Zech.
Perspectivas do setor
O mercado de eventos no Brasil tem demonstrado um crescimento robusto nos últimos anos. Em 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor de cultura e entretenimento registrou um aumento de 2,7% em relação ao ano anterior, conforme dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Além disso, o setor gerou 76.537 novas vagas de emprego, com crescimento na produção de eventos em comparação com 2023.
Para 2025, as perspectivas são promissoras, com um crescimento projetado de 4,5% no mercado de eventos corporativos, mesmo diante de um cenário de desaceleração econômica, como indicado por Pesquisa da Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc).
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