Dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) apontam uma redução de 26% nas ocorrências de furtos e roubos a residências no estado durante o primeiro trimestre de 2025. Apesar da queda, foram registrados 9.500 casos entre janeiro e março deste ano, o que é motivo de grande preocupação. Neste sentido, a inteligência artificial tem se mostrado uma importante aliada para ajudar a monitorar residências, comércios e empresas.
“Já existem sistemas que combinam IA com câmeras para monitorar áreas restritas e diferenciar pessoas autorizadas das não autorizadas”, diz Victoria Luz, especialista e consultora de IA para negócios, ao comentar que empresas de segurança aplicam inteligência artificial para analisar vídeo em tempo real, detectar comportamentos anômalos e identificar potenciais riscos.
Um desses sistemas é uma tecnologia recém-criada, que promete transformar a forma como residências, comércios e empresas monitoram seus espaços no dia a dia. Batizada de ‘Estranho no Ninho’, criada pela Emive Tech, empresa do ecossistema Emive&CO, a ferramenta utiliza inteligência artificial e reconhecimento facial para detectar, em tempo real, a presença de pessoas não autorizadas em locais monitorados, mesmo quando o sistema de alarme está desativado.
A tecnologia foi desenvolvida para sanar lacunas comuns em projetos de segurança: períodos em que o alarme está desativado ou áreas em que diferentes pessoas com credenciais de acesso circulam, criando a possibilidade de entrada de terceiros não cadastrados.
“Boa parte das violações acontecem durante o funcionamento normal da casa ou da empresa. Por isso, projetamos uma aplicação que complementa o sistema tradicional e atua mesmo quando o alarme está desarmado, oferecendo uma camada adicional de inteligência e controle”, explica Augusto Conde, diretor de produtos da Emive&Co.

Augusto Conde/Divulgação
Inteligência que antecipa riscos
O funcionamento é simples: ao detectar um rosto não reconhecido pela base cadastrada, a câmera envia automaticamente um alerta para o celular do responsável. A identificação é feita por inteligência artificial embarcada, que registra continuamente os rostos autorizados naquele ambiente.
A aplicação cobre desde apartamentos e casas até ambientes corporativos sensíveis, como farmácias (áreas com medicamentos controlados), salas de TI, escritórios financeiros, garagens e academias de condomínio.
Em todos esses cenários, a tecnologia atua de forma silenciosa, monitorando discretamente e alertando apenas quando há algo fora do padrão.

Victoria Luz/Divulgação
Entre as vantagens do uso de IA no monitoramento, Victoria destaca:
- Detecção em tempo real com reconhecimento facial: permite identificar pessoas não autorizadas assim que entram no campo de visão, mesmo com o alarme desligado
- Redução de falsos positivos em relação a sensores tradicionais, já que a IA consegue filtrar sombras, animais e outros movimentos irrelevantes
- Flexibilidade de operação: mantém vigilância ativa mesmo em situações em que o alarme está desarmado.
- Escalabilidade e evolução: pode aprender novos perfis, adaptar-se a diferentes ambientes e se atualizar ao longo do tempo
Por outro lado, diz ela, as limitações e desafios técnicos são:
- Precisão e vieses do reconhecimento facial: pode apresentar diferenças de acurácia entre etnias, idades e gêneros, além de riscos de erro em rostos cobertos ou alterados
- Ambientes adversos: pouca luz, câmeras de baixa qualidade ou ângulos ruins comprometem a performance
- Latência e desempenho em tempo real: demanda infraestrutura robusta para evitar atrasos
- Privacidade e risco legal: envolve dados sensíveis, exigindo atenção às normas de proteção de dados e direito à imagem.
Acesso democratizado
A proposta da Emive é democratizar o uso de tecnologias que antes estavam restritas a grandes corporações ou a projetos públicos de videomonitoramento. “O que antes era uma realidade apenas de smart cities, hoje está acessível a uma farmácia de bairro ou a um pequeno condomínio. A inteligência artificial já é uma aliada viável para a segurança cotidiana”, diz Conde.
A aplicação está integrada ao ecossistema de monitoramento com alarme da empresa, o que viabiliza o custo e garante uma estrutura de suporte e acompanhamento em tempo real.
O ‘Estranho no Ninho’ é a primeira de uma nova série de aplicações da Emive com tecnologia embarcada em IA. A empresa promete lançar outros recursos, consolidando um roadmap de inovação voltado para segurança inteligente.
Cuidados
Victoria ressalta que alguns cuidados são necessários:
- Legal e regulatório: verificar conformidade com leis de proteção de dados e regras locais sobre biometria
- Transparência: informar claramente que há uso de reconhecimento facial e explicar como os dados são armazenados
- Segurança dos dados: usar criptografia, limitar acessos e eliminar dados obsoletos
- Testes de viés e acurácia: avaliar continuamente a taxa de erro e corrigir distorções
- Planos de contingência: manter alarmes ou vigilância humana em caso de falha do sistema
- Atualizações constantes: manter o sistema atualizado para corrigir falhas e melhorar a performance
- Limitação de escopo: usar como ferramenta de apoio, não como único responsável pela decisão
- Gestão de respostas: definir níveis de alerta antes de qualquer reação automática
- Auditoria: permitir revisões independentes para garantir transparência
- Cultura organizacional: preparar funcionários e comunicar visitantes de forma clara para evitar percepção de vigilância excessiva.
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