Inteligência artificial e robótica transformam a medicina no Brasil

Médico destaca que o robô não substitui o cirurgião. Ele potencializa suas mãos, seus olhos e sua precisão
Cirurgia robótica Pexels

A tecnologia está mudando o universo da medicina e as cirurgias robóticas começam a ter mais destaque dentro do setor. Para se ter uma ideia, o número de cirurgias robóticas saltou 417% entre 2009 e 2002. De 2009 a 2018, foram feitas 17 mil cirurgias robóticas. De 2018 a 2022, foram 88 mil procedimentos. Além disso, o número de robôs cirúrgicos instalados no Brasil saiu de 51 em 2018 para 111 em 2023/2024.

“A cirurgia robótica já deixou de ser promessa: ela é o presente da medicina moderna. Agora, vivemos a transição para uma fase em que inteligência artificial, competição global e acesso ampliado definirão os próximos capítulos”, diz o médico Bruno Benigno, urologista e oncologista do hospital Oswaldo Cruz e diretor da Clínica Uro Onco.

“O robô não substitui o cirurgião. Ele potencializa suas mãos, seus olhos e sua precisão. E é nesse encontro entre arte médica e tecnologia de ponta que se desenha o futuro da cirurgia”, complementa Benigno.

Bruno Benigno, urologista e oncologista do hospital Oswaldo Cruz e diretor da Clínica Uro Onco/Divulgação

O uso de robôs já deixou de ser uma promessa para se tornar realidade. “Hoje, em 2025, eles fazem parte do dia a dia em especialidades como urologia, ginecologia, cirurgia geral e oncologia. O que antes era restrito a poucos centros de referência, agora se expandiu para hospitais de médio porte e até mesmo redes privadas que democratizaram o acesso. Isso mostra que a tecnologia já superou a fase de novidade e se consolidou como padrão em muitos procedimentos de alta complexidade”, concorda Camila Kill, mestre em cirurgia vascular e CEO da rede de clínicas Vascularte.

Na mesma linha que Benigno, Camila reforça ainda que o que vemos agora é apenas o início. “A verdadeira revolução é a integração da inteligência artificial dentro da sala de cirurgia. A IA já auxilia no planejamento cirúrgico, na análise de imagens e na tomada de decisão em tempo real”, diz. “Caminhamos para um cenário em que o cirurgião terá um copiloto inteligente: capaz de prever complicações, sugerir condutas e até personalizar a cirurgia de acordo com o perfil anatômico de cada paciente”, avalia.

É importante destacar, conforme lembra Benigno, apesar do nome, o robô não toma decisões sozinho. Ele é um sistema sofisticado que replica com altíssima precisão os movimentos do cirurgião:

  • O médico controla tudo a partir de um console com visão 3D ampliada.
  • O sistema filtra tremores da mão e permite movimentos mais delicados que o humano conseguiria.
  • As pinças robóticas entram por pequenos cortes, resultando em procedimentos minimamente invasivos.

“O grande diferencial é a precisão: o robô é capaz de ampliar gestos em escala milimétrica, preservando estruturas vitais e oferecendo maior controle em áreas anatômicas complexas, como a pelve masculina durante uma cirurgia de próstata”, explica o especialista.

“Os robôs cirúrgicos oferecem uma visão tridimensional ampliada e uma destreza que vai além da capacidade humana, eliminando tremores naturais e permitindo movimentos extremamente delicados”, diz Camila. “Isso garante uma precisão milimétrica em estruturas nobres, reduzindo riscos e aumentando a preservação de tecidos. Em áreas como oncologia, por exemplo, essa precisão pode significar retirar um tumor com margens seguras, preservando funções vitais do paciente”, complementa a especialista.

Camila Kill, mestre em cirurgia vascular e CEO da rede de clínicas Vascularte/Divulgação

De acordo com Benigno, estudos clínicos de grande porte mostram que a cirurgia robótica:

  • Reduz a perda de sangue.
  • Diminui o tempo de internação hospitalar.
  • Facilita a recuperação funcional em alguns casos, como continência urinária após prostatectomia.

“Por outro lado, os resultados oncológicos (controle do câncer) são semelhantes aos obtidos com técnicas convencionais (cirurgia aberta ou laparoscópica). Em resumo: o robô não é “melhor” em curar, mas pode melhorar a experiência do paciente no pós-operatório”, avalia Benigno.

Nova geração de robôs cirúrgicos

Benigno explica que, por muitos anos, o mercado foi dominado por um único fabricante. Essa realidade mudou. Hoje, vários sistemas estão disponíveis ou em desenvolvimento, entre os quais ele cita:

  • Da Vinci 5 (Intuitive Surgical, EUA): lançado em 2024, é a quinta geração do robô mais utilizado no mundo, com mais de 12 milhões de cirurgias realizadas globalmente desde os anos 2000.
  • Versius (CMR Surgical, Reino Unido): robô modular, portátil, com console “aberto”, pensado para maior flexibilidade e custo reduzido. Aprovado nos EUA em 2024.
  • Hugo (Medtronic, EUA/Irlanda): já em uso em países da Europa e América Latina, com proposta de ampliar o acesso à robótica em hospitais médios.
  • Senhance (Asensus, EUA): único com feedback tátil (háptico) e integração de IA para auxiliar em tempo real.

“O próximo salto da cirurgia robótica será a integração da inteligência artificial”, afirma Benigno ao lembrar que já existem sistemas capazes de:

  • Reconhecer fases da cirurgia em tempo real, auxiliando no planejamento do próximo passo.
  • Controlar automaticamente a câmera para acompanhar os instrumentos do cirurgião.
  • Analisar vídeos cirúrgicos e oferecer feedback para treinamento de novos especialistas.

“Esses avanços inauguram o conceito de ‘sala de cirurgia digital’, onde cada gesto, cada imagem e cada decisão podem ser registrados, analisados e comparados para aumentar a segurança e a qualidade”, comenta o médico.

Para ele, o grande desafio no Brasil é ampliar o acesso a essa tecnologia para além dos grandes centros. Ainda existe uma barreira de custo, mas a multiplicação de fabricantes, incluindo empresas chinesas, promete tornar a cirurgia robótica mais próxima da realidade de um número cada vez maior de pacientes.

Crédito da imagem: Pexels

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