A inteligência artificial está sendo adotada pelo setor de turismo para oferecer serviços mais personalizados e melhorar a eficiência das operações. Empresas como agências de viagem, companhias aéreas e hotéis já utilizam a tecnologia para analisar dados dos usuários e criar recomendações sob medida, automatizar atendimentos e ajustar preços em tempo real com base na demanda.
Além disso, ferramentas de IA auxiliam no atendimento ao cliente e na gestão interna de hotéis, otimizando processos como check-in, limpeza e controle de energia. Isso sem contar que os sistemas inteligentes aprendem com o comportamento dos hóspedes para sugerir atividades e preferências de acomodação.
“A inteligência artificial chegou ao turismo como mais uma revolução na história, tão transformadora quanto a mudança do cartão de embarque físico para o e-ticket digital. Ela automatiza processos, cria roteiros em minutos, encontra ofertas ocultas e centraliza informações em tempo real. Tanto o viajante como profissional de turismo ganham tempo, precisão e personalização como nunca tivemos. Estamos entrando na era do turismo inteligente, onde tecnologia e experiência caminham lado a lado”, considera Sabrina Leme, da Valensa Viagens.
Apesar do avanço, especialistas destacam que o uso da IA levanta questões sobre privacidade de dados e padronização dos serviços. Ainda assim, a tendência é de crescimento, com a tecnologia tornando as viagens mais práticas, personalizadas e conectadas às necessidades de cada perfil de viajante.
Para Ronaldo Porto, gerente de marketing B2C do Visit Rio, a inteligência artificial já é uma realidade no setor de turismo e vem sendo aplicada de diferentes formas, tanto por empresas quanto por viajantes.
“É usada no atendimento inicial por meio de chatbots e assistentes virtuais que oferecem respostas rápidas e personalizadas; na geração, tradução e revisão de textos para marketing e descrições de ofertas; na análise de dados e pesquisas de mercado; e na montagem de roteiros personalizados de acordo com as preferências e o perfil do turista”, diz.
Benefícios
Entre os benefícios, destaca-se a automatização de tarefas repetitivas como atendimento inicial, triagem de informações e tradução, liberando os profissionais para se dedicarem ao que é mais estratégico e insubstituível: a hospitalidade.
“A IA oferece maior personalização da experiência, tornando possível criar roteiros sob medida e otimizar o planejamento de viagens. Outro ganho está no alcance do conteúdo, já que a tecnologia facilita o acesso imediato a informações relevantes, beneficiando inclusive guias e agentes, que passam a contar com uma base mais organizada e rica para trabalhar”, considera Porto.
Douglas Dias, coordenador de projetos na área de turismo e educação profissional da Fundação FAT, também destaca a agilidade em alguns processos de atendimento, como cotação de viagens, reservas, detalhamento de informações sobre o destino e sobre a infraestrutura do receptivo, mapeamento dos perfis de usuários de serviços turísticos (aliando IAs com informações de Big Datas, por exemplo), agilidade na produção de conteúdos promocionais desses mesmos serviços, apoio nos treinamentos de brigadas, como benefícios do uso de IA no setor de turismo.
Em relação à redução de valores de passagens e hotéis, especialistas ressaltam que o setor de turismo é muito sensível a diversos movimentos econômicos.
“O combustível da aviação, a variação do dólar, o custo direto de mão-de-obra dos serviços receptivo são alguns exemplos de fatores que influenciam no custo de uma viagem”, comenta Dias. “Assim sendo, a curto prazo, o uso das IAs em parte dos processos de atendimento não deve trazer impactos significativos no custo de transportes e hospedagens, mas pode baratear alguns custos da cadeia de hotéis, como geração de conteúdos para promoção do empreendimento, criação de promoções de forma mais ágil. Isso está mais ligado à sazonalidade do turismo – velha companheira do setor – do que ao impacto das IAs no setor”, complementa.
Porto concorda que não é esperada uma redução direta nos preços como resultado do uso da IA. Questões como a pressão inflacionária global e o custo elevado de profissionais especializados em tecnologia mantêm os valores estáveis ou em crescimento.
“Porém, a IA torna as informações mais acessíveis, permitindo que turistas encontrem promoções, oportunidades e datas vantajosas tarefas que antes dependiam de agentes de viagem. Assim, a tecnologia não necessariamente barateia as viagens, mas permite planejamento mais inteligente e estratégico”, diz.
Guia de turismo
A internet já vinha mudando o papel dos guias turísticos mesmo antes do avanço da IA, descentralizando o acesso à informação. Embora esse tipo de tecnologia possa ampliar o impacto sobre, especialistas avaliam que os guias que também trabalham como agentes de viagem criando e vendendo roteiros, pesquisando hospedagens e transportes, o guia local que entrega contato humano, contexto histórico e uma narrativa exclusiva continuará sendo valorizado pelo turista que busca experiências personalizadas. O fato, dizem eles, é que ferramentas de IA não substituem a vivência, a empatia e o carisma de um guia presencial.
Sabrina comenta que estamos vivendo uma era em que a informação está nas nossas mãos, basta apontar a câmera para um monumento e, em segundos, a inteligência artificial revela sua história, curiosidades e até detalhes arquitetônicos que talvez passassem despercebidos.
“Porém nesse contexto para os guias turísticos, isso não representa o fim, mas uma transformação. A IA pode assumir o papel de fornecer informações rápidas e objetivas, enquanto o guia turístico traz o que a tecnologia não reproduz: emoção, narrativa envolvente, interação e vivências autênticas”, diz.
Para ela, o impacto real será uma mudança e inovação do papel do guia: de um simples transmissor de fatos para criador de experiências únicas que combinam o melhor do digital com o calor humano. A tecnologia entrega dados; o guia de turismo entrega emoção.
“Acredito que já tivemos expectativas similares com os impactos das tecnologias no setor de turismo com o paradigma dos sistemas (no final dos anos 1990), depois com a internet, com as Big Datas, com a IoT, e agora com as IAs. Um exemplo de que a hospitalidade e o turismo são feito por pessoas e para pessoas é que o primeiro hotel totalmente robotizado no Japão faliu depois de dois anos”, comenta Dias.
A expectativa dos clientes, viajantes e turistas é cada vez mais pungente sobre o acolhimento. “E o acolhimento digital, por mais soft e polide que as IAs sejam, ainda não se compara à hospitalidade genuína e bem treinada que uma boa equipe do setor de turismo pode oferecer em diferentes momentos, desde a compra da viagem, até o despacho de bagagem no aeroporto”, finaliza Dias.
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