Executivos e líderes de inovação revelam como a inteligência artificial está sendo incorporada de forma estratégica em áreas como marketing digital, audiovisual, moda e saúde, e os erros mais comuns de quem investe apenas pelo modismo
Em meio a promessas futuristas sobre o potencial da inteligência artificial, algumas empresas brasileiras avançam na aplicação prática da tecnologia e mostram que, mais do que tendência, a IA já é peça estratégica em decisões, processos e resultados. Especialistas de setores como tecnologia, marketing digital, design, moda e saúde explicam como estão separando o modismo do que realmente é eficaz para implementação e o que estão aprendendo no caminho.
Segundo Danilo Custódio, CEO da Mirante Tecnologia (foto em destaque) especialista em fortalecer negócios acelerando a transformação digital e inovação através de soluções digitais, o maior erro das empresas ainda está na adoção da IA por modismo, sem um problema claro a ser resolvido. “Tecnologia não é fim, é meio. Ter acesso a ferramentas avançadas não significa que elas façam sentido para todos os contextos. A IA precisa estar vinculada a um propósito bem definido e a um resultado esperado. Só assim ela deixa de ser tendência e passa a gerar valor para o negócio. Quando essa conexão não existe, qualquer iniciativa pode se tornar apenas custo”, acredita.
IA como prática, não como promessa
Na Mirante o uso da inteligência artificial já deixou de ser tendência para se tornar infraestrutura operacional. A empresa aplica IA agêntica tanto em projetos para clientes quanto para processos internos, desde desenvolvimento de software à área comercial, com foco em automação de tarefas técnicas e tomada de decisão baseada em dados. “Hoje, já vemos tanto em projetos de mercado quanto nas nossas próprias operações, um novo padrão de produtividade: cerca de 20% do trabalho permanece com um profissional de TI, enquanto 80% já pode ser executado por agentes de IA. Essa dinâmica amplia a escala e melhora a consistência das entregas”, afirma Danilo.
A empresa estrutura o uso da tecnologia por meio da sua área de inovação, que identifica, analisa e verifica as melhores práticas do mercado, testando e padronizando soluções em IA para posteriormente repassar para a empresa como um todo. O processo garante governança, segurança e alinhamento com os objetivos de negócio, além de focar na redução de custos e na automação de processos complexos.
“A maturidade em IA acontece quando as empresas reconhecem que tecnologia só entrega resultado quando está conectada a um problema bem definido. IA não é solução genérica, é uma direção estratégica”, explica Danilo. “Aplicar com método, governança critérios claros é o que diferencia inovação real de iniciativa sem retorno. Quando essa base existe, a tecnologia amplia eficiência, sustenta escala e fortalece a competitividade”.
IA como diferencial competitivo para as empresas
A Inteligência Artificial deixou de ser promessa para se tornar critério competitivo. Depois de anos marcada pelo entusiasmo e pela experimentação, o mercado agora exige resultados concretos. A diferença entre quem lidera e quem apenas acompanha está em tratar a IA não como tendência, mas como ativo estratégico que precisa ser aplicado com propósito, governança e escala.
De acordo com a McKinsey, 72% das empresas já adotaram IA em 2024, mas a maioria ainda não consegue mensurar retorno real. No Brasil, levantamento da AWS mostra que 93% das instituições exploram IA generativa, embora apenas uma parte tenha projetos maduros. Esse descompasso evidencia o novo desafio corporativo: transformar tecnologia em valor tangível e sustentado.
Para Leonardo Santos, CEO da Semantix, a adoção responsável é o divisor de águas da próxima década. “Aquele que não adotar IA bem posicionada e com governança alinhada à regulação brasileira verá seus custos de inércia, de decisão e de resposta crescerem. O custo de esperar tende a ser maior que o custo de errar e ajustar.”

Com a suíte Semantix AI, a empresa propõe um modelo que integra múltiplos agentes de inteligência com segurança, ética e rastreabilidade, conectando dados, automação e governança. O objetivo é simples e pragmático: tornar a IA um motor de eficiência e confiança, substituindo o hype por impacto real e perenidade nos negócios.
“Já enfrentamos o pior e agora vemos o apetite do mercado voltando e encontrando uma IA mais amadurecida, com menos hype e mais ação. É nisso que estamos focados para decolar”, conclui Leonardo.
Laboratórios de IA
Enquanto muitas empresas ainda buscam entender como aplicar a inteligência artificial de forma estratégica, algumas já avançam na experimentação prática. É o caso da Atomsix e da Monking, que criaram laboratórios internos dedicados a explorar o potencial da IA em seus setores. Na Atomsix, o A6 Labs acelera o desenvolvimento de produtos digitais com foco em performance e experiência do usuário. “Nosso foco está em combinar dados, design e tecnologia para desenvolver soluções que aumentem a eficiência operacional e a experiência dos usuários. Queremos ajudar empresas a transformar seus produtos digitais usando inteligência artificial de forma ética, escalável e centrada nas pessoas”, afirma Guilherme Ferreira, CEO da Atomsix.

Na Monking, especializada em comunicação para inovação, o laboratório surgiu em parceria com a startup Treehouz e funciona como um estúdio audiovisual de IA generativa voltado à criação de conteúdo automatizado em imagem, vídeo e 3D. “A produção de conteúdo está cada vez mais automatizada, mas isso não significa que precisa ser genérica. Nosso objetivo é usar IA para escalar produção com criatividade e inteligência estratégica. Essa parceria nos permite entregar algo que nenhuma agência tradicional oferece hoje”, diz Eduardo Vieira, CEO da Monking. Para ele, criar ambientes controlados para testar e aprender é o caminho para aplicar IA de forma integrada à lógica de negócios — um movimento que marca a transição do hype para a maturidade real da tecnologia.

Aplicação prática no dia a dia
Em meio à euforia envolvendo inteligência artificial, a Audaces, multinacional ítalo-brasileira especializada em tecnologia para a moda, vive a aplicação concreta da IA no seu dia a dia, integrando-a a diversas etapas da sua operação. “A IA só tem valor quando resolve um problema real. O que move nossa agenda é a aplicação prática, não a tendência”, afirma Ricardo Ramos, diretor de tecnologia da Audaces.
Um dos maiores exemplos dessa abordagem pragmática é a Sofia, assistente virtual com IA generativa voltada para estilistas. A ferramenta permite gerar visualizações realistas de roupas a partir de croquis ou esboços manuais, reduzindo o tempo de aprovação de modelos e o uso de protótipos físicos. “Os criativos já enxergam a Sofia como uma aliada estratégica, pois ela potencializa suas criações e otimiza o tempo de desenvolvimento, atuando como a ponte que transforma o desenho feito pelo profissional em uma imagem realista e de alto impacto visual”, explica Natali Neis, líder de Produto da Audaces.

lém das soluções criativas, a companhia também aposta em IA para eficiência operacional. Um dos principais exemplos é a Sala de Corte Inteligente, que conecta o corte físico à rastreabilidade digital. “Hoje atuamos como um hub digital de uma coleção. Cada etapa do processo é registrada e pode ser integrada a sistemas de fornecedores ou plataformas regulatórias. Isso garante visibilidade, controle e tomada de decisão baseada em dados”, destaca Ramos.
Essas aplicações estão alinhadas à estratégia da empresa de consolidar-se como parceira tecnológica da indústria da moda, oferecendo soluções escaláveis, capazes de atender tanto pequenas confecções quanto grandes marcas globais. A IA também tem papel central nos investimentos em sustentabilidade. A Audaces utiliza tecnologias como o Audaces 3D e o Audaces Fashion Studio FS, que fazem parte do portfólio de produtos da empresa, além da própria Sofia, para simular tecidos e modelagens com alta precisão, diminuindo o uso de insumos e o impacto ambiental da produção. “Nossa inovação é contínua, tanto em IA quanto em sustentabilidade. Buscamos antecipar tendências e transformar o discurso em entregas concretas”, afirma o diretor de tecnologia da fashion tech.
Para Natali, a chave está em co-desenvolver as ferramentas com os usuários. “A Sofia nasceu do diálogo com estilistas e segue evoluindo com base em suas dores. Isso nos protege de cair no modismo e garante que cada atualização tenha utilidade real”, diz. Em sua última atualização, lançada no início de outubro, a assistente virtual passou a gerar imagens de alta precisão com menos consumo de créditos e a partir de inputs simples, como esboços manuais. Um avanço que reflete o compromisso da Audaces em entregar soluções em IA que levem a transformações de fato, além do hype.
IA para crescimento digital
Na HostGator, a inteligência artificial faz parte do dia a dia dos clientes. Com o agente de IA Gator, lançado em abril de 2025, usuários automatizam tarefas como configuração de domínio e e-mails, criação de sites e marketing digital diretamente pelo painel, o que reduziu em 30% os atendimentos via chat humano. No mês de setembro, a ferramenta recebeu mais de 272 mil interações. Em breve, serão lançados agentes para automatizar vendas e atendimento online.
Para Ricardo Melo, VP of Growth & Product da HostGator LatAm, a tecnologia deve facilitar o caminho de quem empreende. “O foco é eliminar atritos e dar velocidade para quem precisa colocar o negócio no ar. A IA conecta presença digital, geração de tráfego e vendas em uma jornada integrada e simples.”

O Novo Criador de Sites com IA, lançado em julho de 2025, segue a mesma proposta. A ferramenta cria páginas completas a partir de descrições em linguagem natural e registrou mais de mil sites publicados nos primeiros dias. A HostGator também oferece cursos sobre ferramentas de IA, com previsão de lançar mais de 10 materiais em 2025 e apoiar com o uso para marketing, domínio, mídia paga, e-mails e outros. Além disso, oferecem suporte humano especializado para ajudar empreendedores e pequenas empresas a entenderem os primeiros passos da presença digital, desde configurações de domínio, e-mails até as camadas mais técnicas dos servidores de hospedagem. “Nosso papel é tornar a tecnologia acessível e prática, para que mais pessoas possam, em pouco tempo, transformar ideias em negócios reais”, completa Melo.
Automatização de agendas na saúde
Fundada por Roberto Dozol e seu irmão Elinton Dozol Machado (CTO), com o pai Laerte como sócio, a Nina Tecnologia nasceu com o propósito de aplicar inteligência artificial à jornada do paciente, muito antes do hype da tecnologia. Desde 2017, a plataforma utiliza IBM Watson para automatizar interações via WhatsApp, telefone e e-mail, sendo pioneira na interpretação de respostas faladas em confirmações de consultas.

Em 2025, a empresa é referência em comunicação automatizada para clínicas, hospitais e operadoras de saúde, com mais de 50 milhões de confirmações realizadas. Sua IA também permite check-in com reconhecimento facial, pesquisa de satisfação e resgate inteligente de faltas, tudo integrado aos principais ERPs do setor. O objetivo é garantir presença e engajamento com eficiência e segurança.
“A IA só tem valor quando resolve um problema real”, afirma Roberto. “No nosso caso, é garantir que o paciente compareça. Não usamos tecnologia por impulso, mas como infraestrutura de operação.” Para ele, maturidade em IA significa aplicar com propósito, governança e conhecimento do setor. “É preciso ter muita clareza sobre os processos para garantir resultados satisfatórios com o uso da tecnologia”.
Process Mining transforma o ciclo de compras com agentes inteligentes
A UpFlux, empresa de Jaraguá do Sul (SC) especializada em process mining, aplica inteligência artificial para transformar a operação de suprimentos, da requisição ao pagamento. A tecnologia analisa milhões de transações do ciclo P2P (Procure to Pay), identificando gargalos, erros e padrões invisíveis que comprometem eficiência e compliance.
“Em compras, uma pequena falha pode gerar um efeito dominó: atraso no recebimento, divergência de nota fiscal ou pagamento indevido. O process mining permite enxergar o fluxo real, de ponta a ponta, revelando o que está travando a operação”, explica Alex Meincheim, CEO e cofundador da UpFlux.
A solução da empresa combina mineração de processos e agentes inteligentes para atuar diretamente nos principais desafios de suprimentos. Os agentes operam com autonomia supervisionada: executam tarefas operacionais dentro de regras de negócio e acionam aprovação humana em decisões críticas.
Entre os agentes desenvolvidos pela UpFlux estão o Negociador, que consolida demandas e negocia automaticamente com fornecedores homologados, e o Priorizador, que classifica requisições de compra conforme urgência e criticidade.
A aplicação prática tem gerado resultados expressivos. Em projetos de P2P, empresas registraram redução de até 76% no tempo de ciclo de compras, correção de milhões de reais em pedidos lançados incorretamente.
De acordo com a consultoria Gartner, até 2026, metade dos processos de compras repetitivas será executada por agentes autônomos ou assistentes digitais. “É o futuro da área de suprimentos, mais estratégica, inteligente e orquestrada por dados”, conclui Meincheim.
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