Bonecas com IA levam conforto emocional a idosos na Coreia do Sul

Companheiros com inteligência artificial unem cuidados práticos e apoio emocional em um país que enfrenta uma crise de saúde mental na terceira idade

Bonecos com aparência infantil, voz alegre e inteligência artificial estão se tornando aliados improváveis no cuidado com idosos na Coreia do Sul. Conhecidos popularmente como “avós robôs”, esses companheiros tecnológicos surgem em meio a um cenário preocupante: o país registra uma das maiores taxas de suicídio entre pessoas com mais de 65 anos no mundo desenvolvido. As informações são da CNN.

Dados publicados em 2025 pelo Journal of the Korean Medical Association indicam que cerca de dez idosos tiram a própria vida todos os dias no país. O fenômeno está ligado a fatores como solidão, dificuldades financeiras e o enfraquecimento das redes familiares tradicionais, em um contexto de envelhecimento acelerado da população.

Hoje, mais de 10 milhões de sul-coreanos têm 65 anos ou mais, o que representa aproximadamente 20% da população. A mudança rápida para uma sociedade “super-envelhecida” deixou lacunas em políticas de assistência social, enquanto um em cada três idosos vive sozinho. Com o sistema público de saúde pressionado, o governo passou a incentivar soluções tecnológicas para complementar o cuidado humano.

É nesse cenário que empresas como a Hyodol ganharam protagonismo. A startup desenvolveu um robô em forma de boneca, equipado com sensores e sistemas de IA, voltado especialmente para idosos que moram sozinhos. Conectado a aplicativos e plataformas de monitoramento, o dispositivo permite que familiares e assistentes sociais acompanhem rotinas básicas, como horários de refeições e uso de medicamentos, além de emitir alertas em situações de emergência.

Mais do que funções práticas, porém, o maior impacto relatado é emocional. O robô conversa, canta, propõe exercícios cognitivos e reage ao toque, criando uma sensação de companhia constante. Ao chegar em casa, o idoso é recebido com frases de acolhimento, um detalhe simples que, segundo cuidadores, ajuda a reduzir a sensação de abandono.

Até o fim de 2025, mais de 12 mil unidades do robô da Hyodol haviam sido distribuídas em programas públicos de assistência social na Coreia do Sul. Outras mil foram adquiridas diretamente por famílias. O modelo mais recente custa cerca de 1,3 milhão de wons, o equivalente a aproximadamente R$ 4.700.

Pesquisas acadêmicas reforçam os efeitos observados na prática. Estudos com idosos que utilizaram o robô por algumas semanas apontaram redução de sintomas depressivos e melhora em testes cognitivos, especialmente entre pessoas com comprometimento leve. Em alguns casos, o uso contínuo ajudou a postergar a necessidade de internação em casas de repouso.

Apesar dos resultados positivos, a adoção desses companheiros artificiais também levanta debates éticos. Especialistas alertam para riscos de dependência emocional, perda de autonomia e até infantilização dos idosos. Há relatos de usuários que passaram a se isolar socialmente após criar vínculos intensos com os robôs, tratando-os como substitutos de familiares falecidos.

Empresas do setor reconhecem as limitações. A proposta, segundo os desenvolvedores, não é substituir o contato humano, mas oferecer suporte complementar para pessoas em situação de maior vulnerabilidade. Por isso, o perfil médio dos usuários tende a ser de idosos mais velhos e com maior necessidade de acompanhamento diário.

Créditos da imagem: Hyodol/Divulgação

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