Estudo revela que cérebro usa “Legos cognitivos” para aprender novas tarefas e inspira avanços em IA

Pesquisa de Princeton mostra como o córtex pré-frontal reutiliza módulos mentais para resolver tarefas diferentes, garantindo flexibilidade que sistemas de IA ainda não possuem.

A inteligência artificial já consegue escrever textos premiados e auxiliar médicos em diagnósticos complexos, mas ainda não alcança a flexibilidade mental do cérebro humano. Uma nova pesquisa da Universidade de Princeton aponta um motivo central para essa diferença: o cérebro combina e recompõe módulos mentais reutilizáveis (apelidados de “Legos cognitivos”) para solucionar desafios variados sem precisar reaprender tudo do zero. As informações são da ScienceDaily.

O estudo, publicado em 26 de novembro na revista Nature, analisou como o córtex pré-frontal de primatas monta e desmonta esses blocos cognitivos para adaptar comportamentos rapidamente. Segundo os pesquisadores, essa habilidade pode servir de inspiração para tornar sistemas de IA mais resilientes, capazes de aprender novas tarefas sem perder informações antigas.

O trabalho foi conduzido por Tim Buschman, diretor associado do Instituto de Neurociência de Princeton, e pela pós-doutoranda Sina Tafazoli. Para entender como o cérebro organiza esse tipo de flexibilidade, eles treinaram dois macacos para realizar tarefas de categorização visual, como distinguir cores, formas ou ambas, enquanto registravam a atividade cerebral dos animais.

Apesar das diferenças entre as tarefas, muitas delas compartilhavam componentes em comum, como o julgamento de cor ou o movimento ocular necessário para indicar a resposta. Essa estrutura permitiu aos pesquisadores observar quando padrões neurais se repetiam sempre que as tarefas exigiam as mesmas habilidades.

A equipe descobriu que o córtex pré-frontal ativava conjuntos de neurônios específicos para funções como discriminar cores ou direcionar o olhar. Esses padrões podiam ser combinados conforme a tarefa, exatamente como peças de Lego. Assim, ao mudar de um desafio para outro, o cérebro não recriava tudo do zero, apenas reorganizava módulos que já existiam.

Os pesquisadores também notaram que o cérebro silenciava blocos cognitivos desnecessários para manter o foco. Quando os macacos estavam avaliando formas, por exemplo, padrões ligados à categorização de cores eram temporariamente inibidos.

O fenômeno ajuda a explicar por que humanos conseguem aprender algo novo como, por exemplo, dirigir um carro automático após usar um manual, aproveitando habilidades já dominadas. Em contraste, sistemas de IA ainda sofrem com a chamada “interferência catastrófica”: ao aprender algo novo, tendem a apagar o que já sabiam.

Segundo Buschman e Tafazoli, incorporar princípios de composicionalidade pode levar a IAs mais adaptáveis, capazes de integrar novos conhecimentos sem sacrificar os anteriores. A descoberta também pode influenciar tratamentos de saúde mental, já que condições como esquizofrenia, TOC e algumas lesões cerebrais parecem afetar justamente a capacidade de recombinar habilidades conhecidas.

Os autores acreditam que compreender como o cérebro organiza e reutiliza seus blocos cognitivos pode abrir caminho para terapias que restaurem a flexibilidade mental e para sistemas de IA mais próximos da forma humana de aprender.

Créditos da imagem: Pixabay

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