IA transforma a logística em agilidade, antecipação e fim do achismo no setor de Supply Chain

A Inteligência Artificial está remodelando o panorama do Supply Chain global, transcendendo a função de simples ferramenta de visualização para se tornar um motor de decisões táticas e estratégicas. Longe de substituir o profissional, a I.A. assume o papel de parceira analítica, focando na antecipação de riscos e no aumento da velocidade operacional, conforme revelam especialistas da área.

Profissional do setor, Lucas Carvalho, pós-graduado em Logística e Supply Chain Management pela FGV-Rio e atualmente cursando MBA em Logistics & Supply Chain na Live University, com foco na indústria marítima, aponta que a principal mudança reside em transformar dados brutos em “ação concreta”.

  “A IA veio para ficar, e, como tudo que é novo, no início causa certo medo, algo até instintivo da própria natureza humana.  Na minha rotina, por exemplo, existem inúmeras possibilidades de aplicação da IA, especialmente, no apoio às decisões do dia a dia e na automação de tarefas simples, mas isso vai depender, claro, da maturidade da empresa e das ferramentas disponíveis”, afirma.

Na visão do especialista, a Inteligência Artificial traduz-se em eficiências concretas e imediatas em diversas frentes do Supply Chain, elevando a gestão de riscos e a conformidade a um novo patamar. As principais aplicações destacadas incluem:

  • Planejamento de Compras: A I.A. consolida demanda, prazos e restrições dos fornecedores para gerar requisições já priorizadas, permitindo que a equipe foque na revisão estratégica, e não na montagem inicial dos dados.
  • Análise de Spend e Compliance: A ferramenta classifica a demanda por categoria e identifica oportunidades de negociação, aponta contratos fora do padrão ou em desacordo com as políticas de Compliance, fornecendo um apoio fundamental ao planejamento orçamentário.
  • Detecção de Riscos e Antecipação: A I.A. atua proativamente, emitindo alertas sobre a concentração perigosa de fornecedores, variações anormais de prazo e possíveis rupturas ou desvios no nível de serviço.
  • Otimização da Operação Diária: No nível tático, a I.A. recomenda reposições, simula cenários de estoque e sugere os modos de transporte ou roteiros mais adequados, considerando o equilíbrio ideal entre custo e nível de serviço estabelecidos.

Para Lucas Carvalho, a IA deixou de se resumir apenas a dashboards e gráficos bonitos para gerar recomendações claras – seja aumentar o estoque de um item crítico, renegociar com um fornecedor ou ajustar uma rota logística. “Ela não decide no nosso lugar, mas torna o caminho muito mais evidente,” explica, destacando a elevação do patamar estratégico do Supply Chain dentro da empresa.

 “A IA nos ajudou a identificar padrões que, honestamente, ninguém tinha tempo de enxergar: picos fora de época, itens de giro lento, materiais críticos com baixa previsibilidade, entre outros. Esse ajuste fino reduziu pressão financeira, liberou espaço e trouxe mais segurança operacional”.

Lucas Carvalho, profissional de Supply Chain

O fim do achismo e a tomada de decisão baseada em fatos

Uma das áreas de maior impacto no setor é a gestão de fornecedores. A IA Introduziu uma cultura de avaliação baseada em desempenho real, prazos, desvios e custo total, e não mais na “percepção” ou em negociações puramente comerciais. “As conversas ficaram mais transparentes, objetivas e baseadas em fatos. A IA nos ajuda a chegar às reuniões com cenários, comparativos e argumentos sólidos, sem perder a sensibilidade comercial”, diz.

Segundo Lucas Carvalho, a avaliação dos fornecedores, a partir da introdução da IA, ocorre a partir de uma base em dados reais, contemplando desempenho, prazos, desvios, custo total e variação de qualidade. A mera percepção deixou de ser a mola mestra desse processo.

“Também acompanhamos riscos externos como a capacidade produtiva, cenários portuários, gargalos logísticos e rotas críticas. Isso já transforma a negociação e a tomada de decisão. As conversas ficaram mais transparentes, objetivas e baseadas em fatos. A IA nos ajuda a chegar às reuniões com cenários, comparativos e argumentos sólidos, sem perder a sensibilidade comercial”, aponta. Um outro diferencial é que a IA tornou o setor de Supply Chain menos vulnerável a imprevistos e mais preparado, acionando os planos de contingência estabelecidos mais rapidamente.

Barreira cultural

A principal resistência à implementação da IA nos times de Supply Chain, segundo Lucas Carvalho, revelou-se ser cultural, e não técnica. De acordo com o especialista, no estágio inicial, o obstáculo era o medo inerente da equipe: o receio de errar, a preocupação em depender excessivamente da ferramenta ou a sensação de que o uso da IA poderia sugerir uma falta de competência profissional.

“A chave foi mostrar que a IA não tira autonomia, ela tira retrabalho. Ajuda o time a dedicar tempo ao que realmente importa. À medida que os resultados apareceram e o dia a dia ficou mais leve, a resistência caiu. Também foi necessário treinar o time para confiar no fluxo, validar recomendações, evitar refazer tudo manual”, comemora.

Construção da confiança da equipe veio na prática

A confiança da equipe na Inteligência Artificial é um ativo que se constrói com histórico e transparência. Inicialmente, a aceitação da ferramenta se baseia na curva de acertos: quanto mais a IA. demonstra precisão e resultados positivos, mais o time passa a considerar e incorporar suas sugestões.

No entanto, essa confiança não se traduz em decisões “às cegas”. O especialista ressalta que o foco é garantir que a equipe confie mais no processo do que na ferramenta. Para isso, é mantida a validação humana nos pontos críticos. “Fazemos questão de entender por que a ferramenta recomendou algo: quais dados usou, que padrão detectou. Não encorajamos decisões “às cegas. O foco é garantir que o time confie mais no processo do que na ferramenta. Também trabalhamos com limites e políticas claras. Por exemplo: mesmo com recomendação da IA, não reduzimos estoque abaixo do nível de segurança sem aprovação. Transparência e governança são fundamentais”, alerta.

O profissional do futuro

Para os profissionais que desejam ingressar ou se destacar no Supply Chain da era digital, Lucas Carvalho oferece conselhos valiosos focados em competências essenciais e na mentalidade correta. Nessa jornada, o especialista afirma que o setor de Supply Chain não é só compra ou logística, mas um grande “quebra-cabeça” que precisa, fundamentalmente, de visão de ponta a ponta. Quem dominar dados, entender de fluxo, prazos, estoque, negociação e souber usar IA como apoio analítico sairá na frente.  “Sendo assim, minha sugestão é: use a IA como parceira. Faça perguntas, peça análises comparativas, explore cenários. E o mais importante: sempre valide com sua experiência prática. Acredito que é a combinação “ferramenta + intuição profissional” que diferencia os melhores profissionais”, conclui.

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