Percentual de indústrias com uso de IA mais que dobra em 2 anos no Brasil

No primeiro semestre do ano passado, 41,9% das empresas industriais pesquisadas faziam uso da IA, enquanto essa marca era de 16,9% dois anos antes
IA Crédito: Pexels

Em dois anos, o número de empresas com atuação na área industrial que utilizam a tecnologia de inteligência artificial mais que dobrou e apresentou um salto de 163%. A quantidade passou de 1.619 em 2022 para 4.261 em 2024.

No primeiro semestre do ano passado, 41,9% das empresas industriais pesquisadas faziam uso da IA, enquanto essa marca era de 16,9% dois anos antes.

A constatação está na Pesquisa de Inovação Semestral (Pintec), divulgada na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento foi feito com uma amostra de 1.731 empresas da área industrial, em um universo de 10.167 companhias com 100 ou mais empregados.

Financiado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), uma organização brasileira sem fins lucrativos, o estudo teve apoio técnico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O gerente de pesquisas temáticas do IBGE, Flávio José Marques Peixoto, associa o avanço da IA ao maior uso das chamadas IAs generativas. “Aquelas que criam conteúdos, texto, imagens”, diz.

Ele contextualiza que, entre as duas pesquisas, houve o lançamento, em novembro de 2022, e a difusão, em 2023, do ChatGPT, software de IA que simula conversas e cria conteúdos. “Eu diria que está relacionado com esse aumento maior, dessa disponibilidade”, assinala.

Flávio Peixoto lista uma série de outras formas de inteligência artificial que ganharam espaço nas empresas industriais, como mineração de dados, reconhecimento de fala, reconhecimento de processo de imagem, geração de linguagem natural (GLN), o aprendizado de máquina (machine learning), a automatização de processos e fluxos de trabalho.

“Uma que é particularmente interessante na indústria é a manutenção preditiva, uso de IA dentro do sistema de produção, na movimentação física de máquinas, tomada de decisões, meio que de forma autônoma”, descreve.

Eduardo Dias, professor de Inteligência Artificial do UniArnaldo Centro Universitário, de Belo Horizonte, comenta que o levantamento mostra um crescimento quase exponencial da utilização de inteligência artificial e outras tecnologias emergentes como a internet das coisas.

“O cenário apresenta uma mudança na cultura de gestão com utilização de ferramentas de IA na otimização de resultados. Notamos na pesquisa que não há setores que não utilizem I.A. e não apenas no modelo das generativas, mas em todas as formas de uso existentes. Destacamos que 87,9% dos setores de administração dentro das empresas, já se alicerça em agentes de IA de alguma forma”, diz o especialista.

Benefícios

A Pintec buscou saber dos empresários quais foram os benefícios atingidos com o uso de tecnologias digitais.

Nove em cada dez empresas citaram aumento de eficiência, e menos da metade listou entrada em novo mercado. Confira:

  • Aumento da eficiência: 90,3%
  • Maior flexibilidade em processos administrativos, produtivos e organizacionais: 89,5%
  • Melhoria no relacionamento com clientes e/ou fornecedores: 85,6%
  • Maior eficácia no atendimento ao mercado: 82,9%
  • Maior capacidade de desenvolvimento de produtos ou serviços novos: 74,7%
  • Redução do impacto ambiental: 74,1%
  • Entrada em novos mercados: 43,8%
  • Outros: 1,5%

Perfil das empresas

O IBGE identificou que o uso da IA se torna mais comum à medida que aumenta o tamanho da empresa. Nos negócios com 500 ou mais empregados, 57,5% das empresas utilizam IA, superando a marca das companhias de 250 a 499 funcionários (42,5%) e das com 100 até 249 trabalhadores (36,1%).

Dentro das empresas, as áreas que mais utilizavam IA eram administração (87,9%) e comercialização (75,2%).

O IBGE mapeou as áreas de atividades nas quais a IA é mais presente. No topo do ranking figuram:

  • Equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos: 72,3% usam
  • Máquinas, aparelhos e materiais elétricos: 59,3%
  • Produtos químicos: 58%

Dos 25 ramos pesquisados, os três com menos uso de IA são:

  • Fumo: 22,9% das empresas utilizam
  • Couro: 20,7%
  • Manutenção, reparação e instalação de mecanismos e equipamentos: 19,2%

Formação dos profissionais

No universo das empresas industriais que utilizam tecnologias digitais avançadas, 78,6% delas informaram aos pesquisadores que os altos custos das soluções tecnológicas dificultaram a adoção. Já a falta de pessoal qualificado foi informada por 54,2%.

Entre as empresas que não utilizam as tecnologias, o principal fator impeditivo foram também os altos custos, apontado por 74,3% das companhias. A falta de pessoal qualificado foi também a segunda justificativa mais apontada (60,6%).

Para Dias, a pesquisa liga um sinal de alerta para toda relação de formação adequada para os jovens, primando pela expertise de seu capital intelectual para o uso devido de tal instrumentalização.

“Nota-se uma tendência de crescimento do uso em todos os setores, por consequência, a busca por profissionais já preparados com esse conhecimento aumenta significativamente e esses passam a tem mais valor no mercado”, afirma Dias.

“Em uma análise um pouco mais profunda podemos notar a mudança de comportamento necessária a quem já está ativo. Algumas funções e/ou profissões estão deixando de existir enquanto novas oportunidades estão chegando. Essa reflexão urge para evolução”, comenta Dias.

Crédito da imagem: Pexels

*Com Agência Brasil

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