À medida que a inteligência artificial generativa se firma como uma aliada estratégica em diversos setores, mitos e desinformação ainda representam barreiras significativas à sua adoção plena. Para esclarecer o tema, Jordan Wilson, apresentador do podcast Everyday AI, dedicou o episódio de número 600 à tarefa de derrubar seis dos mitos mais persistentes — e perigosos — envolvendo a tecnologia. Ouça aqui o episódio completo.
Com base em milhares de horas de pesquisa e entrevistas com especialistas do setor, ele defende que compreender corretamente os fundamentos da IA generativa é essencial para líderes que pretendem estruturar suas estratégias tecnológicas.
“Muito do sucesso de uma empresa ao implementar IA generativa pode ser resumido a algumas questões-chave”, afirmou durante o programa.
O episódio marca um ponto de inflexão na discussão sobre o papel da IA no ambiente corporativo, reforçando a necessidade de informação qualificada em um cenário cada vez mais tecnológico e competitivo.

Jordan Wilson/Reprodução
Confira a seguir, os seis mitos desvendados por Jordan Wilson.
Mito 1: IA é uma vantagem competitiva?
Falso. O primeiro mito que Wilson ataca é a ideia de que adotar IA ainda confere uma vantagem competitiva. Segundo ele, essa janela de oportunidade já se fechou. Hoje, a integração da IA não é mais um diferencial, mas sim uma “expectativa básica”. Empresas que não estão integrando a tecnologia de forma abrangente — com treinamento, políticas e sistemas operacionais — já estão em desvantagem.
“Se sua empresa, de cima a baixo, não estava implementando IA generativa em 2024, você já estava em desvantagem competitiva naquele ano”, critica Wilson. Ele enfatiza que simplesmente distribuir licenças de plataformas como Microsoft Copilot ou ChatGPT não é suficiente para destacar uma organização no mercado atual.
Mito 2: Acesso a ferramentas de IA garante produtividade
Falso. Muitas empresas acreditam que fornecer ferramentas de IA aos seus colaboradores resultará automaticamente em um aumento de produtividade. Wilson classifica essa crença como um erro fundamental. Sem um treinamento estruturado e uma mudança profunda nos fluxos de trabalho, o acesso generalizado leva a uma adoção desigual e a economias perdidas.
“É como exigir que seus funcionários passem a se comunicar em um novo idioma e achar que isso é tudo”, compara o especialista. Ele argumenta que é preciso “desaprender” processos antigos, pois tratar a IA apenas como mais uma ferramenta no kit ignora a necessidade de uma profunda mudança organizacional.
Mito 3: Sistemas de IA são apenas “copilotos”
Falso. A noção de que a IA precisa de supervisão humana constante, como um “copiloto”, está ultrapassada. Wilson afirma que os sistemas mais avançados já operam de forma autônoma e podem executar tarefas complexas sem intervenção humana, desde que as empresas invistam em uma implementação robusta.
“A IA não é mais um copiloto. É o piloto. Ela pode voar sozinha”, declara Wilson. Manter a mentalidade de “copiloto” impede as empresas de aproveitarem o verdadeiro potencial da IA como um agente primário de ação.
Mito 4: IA não pode ser tão empática ou criativa quanto humanos
Falso. Um dos mitos mais arraigados é que a IA não pode igualar a capacidade humana para empatia e criatividade. Wilson refuta isso com dados, citando estudos controlados de 2024-2025 que mostraram modelos de linguagem com pontuações de empatia superiores às de profissionais médicos em contextos específicos. Em outras avaliações cegas, a criatividade da IA superou a de estudantes universitários.
“Quando alguém diz que a IA não é criativa, isso é um sinal de que suas habilidades [em usar a ferramenta] é que são ruins”, provoca Wilson. Para ele, descartar a capacidade criativa ou empática da IA geralmente indica experiência prática limitada ou uso inadequado dos modelos.
Mito 5: A IA criará mais empregos do que eliminará
Falso. A promessa de que a IA criará mais empregos do que eliminará é, segundo Wilson, “conversa corporativa”. Ele prevê que a tecnologia eliminará mais empregos tradicionais em tempo integral do que criará, impulsionada por incentivos corporativos para reduzir o quadro de funcionários à medida que a produtividade aumenta.
“A IA não criará mais empregos tradicionais em tempo integral do que destruirá, ponto final”, afirma. Ele acredita que a estrutura do emprego mudará drasticamente, especialmente nos Estados Unidos, com menos vagas em tempo integral, a menos que haja intervenção regulatória.
Mito 6: “Humano no circuito” é uma rede de segurança suficiente
Falso. Por fim, Wilson alerta contra a estratégia falha de simplesmente designar uma supervisão humana genérica — o que ele chama de “o Bill do TI” — como uma garantia de segurança para a IA. Ele argumenta que sistemas de IA eficazes e “agênticos” exigem ciclos contínuos e orientados por especialistas.
“É uma muleta que não consegue suportar o peso que está se apoiando nela”, diz ele sobre a abordagem do “humano no circuito” (human in the loop). Em vez disso, Wilson defende a necessidade de “ciclos orientados por especialistas” (expert-driven loops), onde o conhecimento especializado é integrado em todas as etapas do processo, e não apenas em verificações superficiais ou aprovações de última hora.
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