A inteligência artificial já é uma realidade nas empresas brasileiras. Segundo estudo realizado entre janeiro e abril deste ano pela Associação Brasileira de Empresas de Software (ABES), em parceria com a IDC, 79,2% dos líderes das principais companhias do país já utilizam IA em seus negócios.
Do atendimento automatizado à análise de grande volumes de dados, a tecnologia tem ganhado protagonismo no ambiente corporativo, transformando a forma como as organizações operam, inovam e se conectam com seus clientes.
“As empresas hoje têm explorado muito questões de automação. Um exemplo é que se um funcionário tem uma função repetitiva, como em uma linha de produção, serviço de informações básicas ao cliente ou mesmo resumir textos, ler contratos, isso já pode ser (e tem sido) substituido por IA”, comenta Renato Peres, consultor de negócios e co-fundador da 4AXON Tech, empresa especializada em soluções de tecnologia.
“É fundamental entender que a IA não veio para substituir colaboradores, mas para automatizar trabalhos repetitivos e em larga escala, liberando humanos para atividades de maior valor agregado e pensamento crítico”, concorda Ricardo Frugoni, gestor de IA, dados e automações.
Aldo Batista, consultor de negócios do Sebrae-SP, destaca que o futuro será definido por quem souber usar a inteligência artificial de forma estratégica. “Os que não utilizarem essa tecnologia ficarão para trás, não apenas na velocidade de execução, mas também na qualidade do que entregam”, considera.
“Com a IA, não falamos apenas em ganhar tempo, falamos em ganhar capacidade, precisão e escala. A tecnologia amplia nossa visão e nossa habilidade de resolver problemas. Permite criar soluções personalizadas em poucos minutos, prever tendências com base em dados reais e oferecer experiências que encantam o cliente. Empresas que entenderem essa lógica não apenas vão sobreviver, mas vão prosperar em um mercado cada vez mais competitivo e digitalizado”, ensina o consultor.
De acordo com ele, o universo de aplicações é imenso e cresce todos os dias. “Hoje já vemos a IA sendo usada para criar textos publicitários, gerar imagens, produzir sons e músicas, desenvolver vídeos e até construir avatares virtuais capazes de interagir com clientes. No campo administrativo, ela pode analisar contratos, cruzar dados de diferentes sistemas, interpretar planilhas complexas e criar previsões mais confiáveis sobre vendas ou demanda de produtos”, elenca Batista.
IA na prática
A reportagem do Intelligence Garden levantou empresas que já estão utilizando a IA na prático e o seu impacto. Confira:
O Grupo HSH, rede de delivery especializada em culinária asiática e havaiana, formado pelas marcas Home Sushi Home, ManguShoyu e Hot Chop, vem apostando no uso de inteligência artificial para otimizar processos e impulsionar decisões estratégicas. A rede desenvolveu dois assistentes virtuais. A Maria auxilia nas dúvidas operacionais dos franqueados e o Iago, responsável por responder automaticamente os interessados na franquia, por meio do landing page. A adoção da tecnologia tem gerado resultados significativos como ganho de eficiência no suporte, economia de tempo para a equipe e maior agilidade na análise de dados.
A Questor Sistemas, empresa que atua com inovação no mercado contábil, lançou recentemente uma inteligência artificial integrada ao sistema, treinada a partir das regras, instruções, orientações e regras contábeis da própria plataforma. A solução, IA Questor, já demonstrou resultados concretos na rotina dos clientes: em junho deste ano, mais de 60 mil perguntas foram respondidas, com 66% delas classificadas como úteis e resolutivas.
O market4u, rede de mercados autônomos presente em condomínios residenciais e comerciais, ilustra bem como as soluções de inteligência artificial estão transformando a gestão e a rentabilidade dos negócios. Desde 2024, a empresa opera com o Pricing 2.0, ferramenta baseada em IA que realiza precificação dinâmica a partir do comportamento do varejo local, tecnologia que já está presente em cerca de 75% da rede.
Além disso, o market4u adotou automações inteligentes em áreas estratégicas, como atendimento ao cliente, controle de qualidade, reposição de estoques e gestão dos centros de distribuição. Com base na análise de dados em tempo real, a IA identifica padrões de compra, ajusta o mix de produtos de cada ponto de venda e personaliza ofertas, tornando a operação mais eficiente, personalizada e lucrativa.
A Vaapty, líder do franchising no segmento de intermediação de venda de veículos do Brasil, passou a investir em inteligência artificial para melhorar a performance e expandir a rede. Eles criaram uma tecnologia própria, que inclui um painel de monitoramento, automação de tarefas, chatbots e integração de sistemas.
A franqueadora também criou soluções que inclui VA Bank, um banco digital voltado para o setor automotivo, VA AutoCheck, uma perícia cautelar veicular por IA, e sistemas como CRM (Gestão de Relacionamento com o Cliente) e ERP (Planejamento de Recursos Empresariais),com produtos financeiros, perícias cautelares feitas com IA nos carros e tudo pensado para proporcionar uma experiência ainda mais eficiente para o cliente e para o franqueado. O investimento em tecnologia própria gerou aos franqueados 60% de economia e 20% de crescimento de receita para toda a rede.
A Minha Quitandinha, startup de tecnologia em varejo que atua no modelo de franquia de minimercado autônomo, utiliza diversas soluções de IA em quase todas as etapas do processo, desde a seleção de franqueados até a rotina operacional das lojas.
Ela investiu cerca de R$ 5 milhões para desenvolver o QPay, um software projetado sob medida para o setor de lojas autônomas. Operando no modelo 3 em 1, o sistema, que tem como objetivo melhorar a jornada de compra e venda tanto para o shopper quanto para o varejista, pode ser utilizado em totem (ou POS), aplicativo para celular e no modo sistema de gestão para o vendedor, além de permitir que os consumidores efetuem compras em menos de 19 segundos. Operando em mais de 400 lojas, o software já registrou mais de 2 milhões de compras e transacionou mais de R$ 45 milhões.
Para agilizar a comunicação e melhorar ainda mais a relação entre marca e franqueados, o JAH Açaí, Sorvetes e Picolés desenvolveu uma ferramenta que responde em aplicativo de mensagens oferecendo suporte às lojas. Além de português, nas 180 unidades brasileiras, a tecnologia de inteligência artificial funciona em outros idiomas, para atender lojas internacionais da rede. O principal benefício do recurso é ampliar a autonomia dos franqueados com um manual interativo de soluções na palma da mão.
Na Fast Tennis, rede de academia de tênis, a IA é utilizada como estratégia para gerenciamento e expansão. Na prática, a inteligência artificial na operação das quadras atua como um gerente digital, automatizando tarefas administrativas que antes exigiam esforço manual dos gestores, como identificar horários ideais de aulas entre alunos com o mesmo nível, prever cancelamentos (churn) e manter a comunicação ativa com os clientes. Isso significa que o franqueado ganha eficiência operacional e tempo, além de oferecer uma experiência superior ao aluno. Todo o processo – de agendamento à cobrança – já acontece sem precisar trocar mensagens, o que elimina o retrabalho e aumenta a produtividade da equipe local. Com o plano já em funcionamento, a rede terá ao menos 70% do trabalho operacional das quadras realizado via sistema e IA até o fim de 2025 e o aporte em tecnologia da empresa já soma mais de R$ 3 milhões.
A Lavô, rede de lavanderias self-service, é gerenciada à distância, por meio do sistema online e isso está totalmente ligado ao machine learning, que dá a possibilidade de fazer o gerenciamento remoto. Dessa forma, são gerados dados quantitativos importantes para usar no dia a dia, que mostram, por exemplo, quais os melhores horários que a unidade roda, com o maior índice de uso do serviço até para ajudar o franqueado a organizar a limpeza da loja e concentre seus esforços nesses dias e horários de maior fluxo, tudo por meio de sistema.
A franquia também implantou um moderno sistema de cadastro facial via QR Code. A iniciativa faz parte de uma estratégia data-driven que já começa a transformar o comportamento de consumo nas unidades da marca. Recém- lançado, o sistema permite mapear o fluxo de clientes, identificando frequência, horários de pico e tipo de serviço usado. Essas informações são usadas para personalizar campanhas, como envio de cupons de desconto segmentados, além de possibilitar promoções por perfil de uso, dinamizando a experiência e ampliando a fidelização.
A Espanha Fácil, empresa de consultoria de imigração, adota a IA em diversas frentes para aprimorar os processos e serviços. Como na análise de documentos, com assistentes virtuais que auxiliam na busca por certidões espanholas e na verificação de documentos utilizados em processos de cidadania. Internamente, o suporte à equipe é feito por meio de integração da IA ao CRM, oferecendo consultas rápidas e precisas sobre trâmites complexos.
Além disso, ferramentas inteligentes otimizam a produtividade, ajustando o tom e o idioma de e-mails, corrigindo textos e gerando automaticamente resumos de reuniões, o que contribui para a eficiência dos fluxos de trabalho. Com essas inovações, a empresa projeta um crescimento de 10% no faturamento.
A CFO Auto Group, concessionária e locadora de veículos nos Estados Unidos, passou a usar inteligência artificial para facilitar a análise de crédito de imigrantes recém-chegados, com foco especial no público brasileiro. A tecnologia permite cruzar dados financeiros tanto do país de origem quanto do exterior, tornando possível oferecer planos de financiamento mesmo para quem ainda não possui histórico de crédito nos Estados Unidos.
Em apenas seis meses, a estratégia resultou na venda de 140 veículos, sendo 80% para quem estava comprando o primeiro carro, e em mais de US$ 1 milhão em empréstimos ativos. A adoção da IA tornou o processo mais ágil, quebrou barreiras e impulsionou novas possibilidades de crescimento para o negócio.
A Singular Serviços, por sua vez, implementou soluções de inteligência artificial para interpretar regimentos internos, criar treinamentos personalizados e aprimorar a gestão de escalas em condomínios, shoppings, construtoras, indústrias e redes de varejo. Com o uso de sistemas que analisam dados em tempo real, a empresa passou a prever demandas, reduzir falhas operacionais e distribuir equipes com maior eficiência.
A adoção estratégica da tecnologia resultou em uma economia superior a 20% nos custos operacionais e em ganhos expressivos na qualidade do atendimento.
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