Estudo internacional conduzido em parceria com pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP propõe uma nova forma de avaliar o grau de agressividade de tumores a partir da expressão de proteínas presentes nas células cancerígenas.
Publicado na revista Cell Genomics, o trabalho Proteomic-based stemness score measures oncogenic dedifferentiation and enables the identification of druggable targets apresenta o PROTsi, um índice computacional que pode ampliar a compreensão do comportamento tumoral e favorecer abordagens terapêuticas mais direcionadas, com possíveis aplicações futuras na prática clínica.
Segundo a professora Tathiane Maistro Malta, do Departamento de Biologia Celular e Molecular e Bioagentes Patogênicos da FMRP, a ferramenta, que utiliza inteligência artificial, tem potencial para auxiliar na definição da conduta médica, especialmente nos casos em que o prognóstico é incerto.
A ferramenta foi desenvolvida com base em aprendizado de máquina, especificamente o algoritmo OCLR, que possibilitou a geração do índice PROTsi a partir de grandes bancos de dados públicos. “Trabalhamos com uma base de dados de mais de 1.300 amostras, utilizando ferramentas computacionais de bioinformática para identificar padrões moleculares e selecionar proteínas com potencial clínico”, explica a professora.
A proposta é que a metodologia possa, futuramente, contribuir para a redução de terapias ineficazes e da exposição desnecessária a medicamentos em tumores que exijam abordagens mais específicas. “Se validarmos bons biomarcadores, ou seja, proteínas que aparecem comumente em casos graves, isso pode ser implementado na rotina clínica, inclusive no SUS. Com isso, estamos contribuindo para uma medicina mais precisa, mais humana e mais eficiente”, afirma Tathiane.
O PROTsi (Proteomic Stemness Index) é um índice que busca quantificar a chamada ‘stemness’ tumoral, que indica o grau em que as células cancerígenas apresentam características semelhantes às das células-tronco, como a autorrenovação, pluripotência e alta plasticidade. No câncer, esse perfil celular é frequentemente associado a maior agressividade e resistência ao tratamento.
“As células cancerígenas emprestam essas propriedades das células-tronco para favorecer seu crescimento e resistência. Quanto mais indiferenciada é a célula tumoral, mais agressivo tende a ser o câncer”, explica a professora. Com a nova abordagem, a expectativa é que essa característica possa ser quantificada com maior precisão.
A inovação do PROTsi está em sua base proteômica. Ao contrário do mRNAsi, índice anterior, também desenvolvida pelo grupo, que se baseava em dados de RNA mensageiro, o novo índice considera a expressão de proteínas, as quais representam a atividade da célula de forma mais fidedigna. Segundo a professora, as proteínas são moléculas funcionais, ou seja, aquelas que realmente exercem papel biológico na célula.
Crédito da imagem: Divulgação/Isabelle de Lima