Inteligência Artificial transforma a rotina do compliance corporativo

De canais de denúncia automatizados à gestão de políticas internas, soluções com IA otimizam tempo, reduzem custos e antecipam riscos com mais precisão

O uso da IA tem revolucionado a área de compliance nas empresas brasileiras trazendo benefícios como automatização de tarefas, detecção de fraudes e análise de dados em larga escala.
Marcelo Erthal, CEO da clickCompliance – legaltech brasileira, fundada em 2016, especializada em desenvolver software completo para gestão de compliance e cultura ética dentro das empresas- explica como a tecnologia vem sendo aplicada para reforçar a integridade corporativa e prevenir riscos de forma proativa.
A empresa, que atende grandes players nacionais de diversos setores da economia, desenvolve o software para que outras empresas possam aplicar a inteligência artificial em suas tarefas de compliance.

“Somos pioneiros no uso de IA aplicada à gestão de integridade corporativa e já usamos a tecnologia em diversas frentes, principalmente no canal de denúncias”, explica Marcelo Erthal.
Segundo o executivo, a automação por meio da inteligência artificial revoluciona a dinâmica do compliance ao eliminar tarefas repetitivas e operacionais que antes consumiam grande parte do tempo dos profissionais da área.

Atividades como triagem de denúncias, verificação do entendimento de políticas pelos colaboradores e comparação de versões normativas podem ser realizadas em poucos minutos, com alto grau de precisão.

“Com isso, temos uma redução significativa do custo operacional, aumento da produtividade da equipe – que passa a se dedicar a funções mais estratégicas – e, ainda, a garantia de mais rastreabilidade e conformidade aos processos”.
Outro recurso em expansão é o uso do Processamento de Linguagem Natural (PLN), que permite analisar comunicações internas em busca de indícios de assédio, conflito de interesses ou violações éticas.

Apesar de não atuar diretamente nesse segmento, a clickCompliance aplica o PLN no tratamento de denúncias, com foco na privacidade e conformidade com a LGPD.

“Nosso foco está em aplicar o PLN de forma responsável dentro dos canais de escuta, como no tratamento de denúncias, sempre priorizando a confiança e a segurança de quem utiliza a ferramenta”.
A IA também contribui para garantir que colaboradores compreendam as normas internas, garantindo que sejam, comunicadas, compreendidas e seguidas por todos os colaboradores.

Por meio da geração automatizada de questionários baseados em políticas da empresa, é possível verificar o entendimento antes da formalização do aceite.

“A inteligência artificial pode auxiliar na comprovação de que os colaboradores e terceiros não apenas aceitaram uma política, mas de fato leram e entenderam as diretrizes. A partir dos documentos, cria um banco de questões que serão disponibilizadas aos usuários antes de darem o aceite. Além disso, pode ser extremamente útil para comparar versões de uma mesma política, já que a atualização desses documentos é constante na área de compliance”, explica.

Limites éticos

Embora não sejam sinônimos, compliance e ética seguem caminhos complementares. Enquanto o compliance assegura que a empresa esteja em conformidade com leis, regulamentos e políticas internas, a ética garante que suas ações estejam alinhadas ao que é moralmente correto.

Esse é um ponto sensível, pois exige encontrar o equilíbrio entre a automação dos processos e a preservação da interação humana. Isso inclui, fundamentalmente, o respeito à privacidade dos colaboradores e a adoção de práticas tecnológicas que não comprometam os valores da organização.

“O uso de IA deve sempre respeitar os princípios da LGPD, além de diretrizes éticas claras. Monitorar não pode significar vigiar, o objetivo é prevenir riscos, não punir de forma automatizada. A transparência com os colaboradores, o uso de dados de forma anonimizada e o envolvimento da governança de TI e jurídica são essenciais para evitar abusos e garantir que a tecnologia seja uma aliada, não uma ameaça”, diz Erthal.

A análise preditiva, um tipo de aplicação de IA que cruza grandes volumes de dados para identificar padrões e prever eventos futuros, é outro benefício do uso da IA. No caso do compliance, isso significa prever onde e quando pode haver risco de não conformidade com leis ou políticas internas, antes que o problema de fato aconteça (como fraudes, desvios éticos, falhas em controles internos etc.).

“Com soluções de análise preditiva, é possível antecipar riscos regulatórios e agir antes que se concretizem. A clickCompliance propõe uma jornada gradual de implementação da IA, que começa pelo canal de denúncias inteligente e avança até a automatização completa de processos sensíveis”, aponta.

Início da jornada digital

Dúvida comum entre empresas que desejam adotar a Inteligência Artificial em seus processos de compliance é saber por onde começar. A resposta exige planejamento, visão de longo prazo e respeito à cultura organizacional.

Segundo Marcelo Erthal, o caminho mais eficaz para implementar soluções de IA em compliance começa pela estruturação de uma jornada de maturidade.

Para isso, a empresa oferece um sistema modular, com soluções que se adaptam ao nível de maturidade e às necessidades específicas de cada organização.

“Nossa lógica de módulos foi desenvolvida exatamente para isso: otimizar a operação desde o estágio inicial até os níveis mais avançados de automação e inteligência”.

Por esse sistema, o ponto de partida (nível 1) é o Canal de Denúncias com IA, que garante uma escuta ativa, eficiente e estruturada.
Em seguida, no nível 2, a empresa incorpora a Governança de Documentos e o Compliance Bot, ampliando o controle normativo e o suporte ao colaborador em tempo real. No nível 3, entram os Treinamentos de Compliance automatizados, promovendo educação contínua e mensurável. Por fim, no nível 4, são adicionados os Processos de Compliance, que automatizam temas sensíveis como conflito de interesses, brindes e hospitalidades.

“Essa lógica permite uma implementação progressiva e estratégica, respeitando a realidade de cada organização e garantindo que a tecnologia esteja sempre alinhada à ética, à governança e à cultura interna”, explica.

Validade jurídica

Por fim, Erthal reforça que as evidências obtidas por sistemas de IA têm validade jurídica, desde que sigam critérios legais e éticos, respeitando a privacidade e garantindo a rastreabilidade das informações.

“Quando bem documentadas, essas evidências podem, inclusive, fortalecer a posição da empresa em processos administrativos e judiciais”, conclui.

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