IA transforma a gestão financeira das empresas; entenda

Antes da IA, o profissional passava horas operando múltiplas planilhas, ERPs e softwares desconectados
Gestão financeira Crédito: Pexels

A inteligência artificial deixou de ser uma promessa tecnológica para se tornar um divisor de águas na gestão financeira e está transformando a maneira como líderes e CFOs analisam dados, antecipam riscos e participam das decisões estratégicas em ambientes corporativos cada vez mais voláteis. “A inteligência artificial na gestão financeira tem inúmeras vantagens, porque ela consegue dar precisão e agilidade no processo, a redução de erros e retrabalho”, afirma Andrea Melo, especialista em governança de TI e cibersegurança e CEO da A Melo IT Governance.

“A inteligência artificial transformou radicalmente o trabalho do profissional financeiro, mas não o substituiu – pelo contrário, agregou valor significativo ao seu papel. Antes da IA, o profissional passava horas operando múltiplas planilhas, ERPs e softwares desconectados. Hoje, com a automação de tarefas repetitivas, essa mesma tarefa pode ser concluída numa fração do tempo (Instituto Universitário de Lisboa 2021), com 12,2% mais tarefas realizadas e 25,1% mais rápido (MIT Sloan Management Review Brasil)”, diz Ricardo Frugoni, gestor de IA, dados e automações.

Os benefícios quantificados variam significativamente entre organizações, mas as empresas líderes estão alcançando ROI excepcional. “Segundo pesquisa do BCG Center for CFO Excellence com mais de 280 executivos financeiros, 74% dos pioneiros em IA estimam ROI superior a 10%, enquanto 20% das organizações reportam ROI acima de 30% em suas iniciativas mais avançadas”, diz Frugoni.

Ele destaca que os ganhos de produtividade são consistentemente impressionantes. “A PwC AI Jobs Barometer de 2025 mostra que o setor de serviços financeiros experimentou crescimento de três vezes na receita por funcionário, passando de 7% (2018-2022) para 27% (2018-2024). As equipes financeiras relatam economia de 30% a 50% do tempo em tarefas manuais, permitindo que analistas financeiros dediquem 70% mais tempo à análise estratégica versus preparação de dados”, comenta.

Além disso, ressalta Frugoni, a precisão nas decisões financeiras melhorou dramaticamente. “O JPMorgan Chase economizou US$ 1,5 bilhão através de prevenção de fraudes, personalização, negociação e eficiências operacionais. Seus assessores privados conseguem recuperar informações 95% mais rapidamente, enquanto a plataforma COiN analisa 12.000 contratos de crédito comercial em segundos, poupando milhares de horas de trabalho manual.”

Para ele, o profissional evoluiu de operador para estrategista e agora homologa resultados da IA, foca em insights de crescimento e dedica tempo para identificar gargalos financeiros. Isso redefine o papel do líder financeiro, que passa de mero gestor a protagonista da estratégia corporativa.

“A inteligência artificial veio para otimizar o que é repetitivo e dar velocidade ao que antes tomava horas. Mas o verdadeiro diferencial não está apenas em dominar a tecnologia, e sim em saber usá-la para liberar tempo e focar no que só o ser humano pode fazer: liderar. A tecnologia potencializa, mas quem diferencia é a pessoa por trás do processo”, afirma Thamiris Abdala, CEO da Holding SM.

Uso na prática

Empresas que combinam soluções SaaS e IA ganham vantagem competitiva ao eliminar gargalos operacionais, extrair inteligência acionável dos dados em tempo real e tomar decisões com base em simulações confiáveis. Isso redefine o papel do líder financeiro, que passa de mero gestor a protagonista da estratégia corporativa.

Uma das empresas que tem se beneficiado dester processo é a Accountfy, que vem evoluindo rapidamente em direção a uma experiência AI-first, com lançamento previsto dentro do produto Analytics. A proposta refere-se a uma abordagem onde a IA é colocada no centro da experiência, como ponto de partida na análise de dados, permitindo que os usuários criem, editem e analisem dashboards em linguagem natural, além de auxiliar na escrita de scripts focados em automação na modelagem financeira, orçamento e transformações de dados, tudo em ambiente visual e conversacional.

Segundo Goldwasser Neto, CEO da Accountfy, o impacto dessa convergência entre IA e SaaS vai além da automação. “SaaS com inteligência artificial não é apenas sobre acelerar processos, é sobre elevar a qualidade das decisões. A IA oferece uma visão preditiva do negócio, fundamentada em dados confiáveis, o que é essencial para empresas que buscam crescer com controle e clareza”, afirma.

A aplicação da IA no ambiente corporativo também tem avançado na área de compliance. A Revio, por exemplo, desenvolveu o Coretax, uma solução baseada em IA que automatiza a classificação fiscal de produtos e identifica oportunidades de recuperação de créditos tributários, contribuindo para a governança tributária.

“Muitas empresas ainda deixam essa tarefa crítica nas mãos de equipes não especializadas, o que gera erros e riscos fiscais evitáveis”, exemplifica Edson Hideki, fundador da REVIO.

Avanços

Para além da automação, a adoção da IA nas finanças corporativas tem gerado avanços concretos em áreas-chave:

  • Mais acurácia na modelagem financeira

Com a IA assistindo na construção de projeções e simulações, os times reduzem erros e elevam a confiabilidade dos modelos, o que é essencial para decisões robustas em mercados voláteis.

  • Acesso ampliado à inteligência de dados

A adoção de interfaces com linguagem natural permite que profissionais de diferentes áreas, mesmo sem conhecimento técnico em análise de dados, consigam realizar consultas, gerar relatórios e interpretar informações complexas de forma autônoma. Isso amplia o uso estratégico dos dados na organização, democratiza a tomada de decisão e reduz a dependência de equipes técnicas para tarefas analíticas do dia a dia.

  • Governança da informação e rastreabilidade de decisões

O uso da IA com supervisão humana garante que decisões automatizadas possam ser auditadas, explicadas e rastreadas, reforçando o compliance e a responsabilidade técnica.

  • Change management na adoção de IA

A transformação exige mais do que tecnologia: requer gestão da mudança, capacitação dos profissionais e superação de resistências culturais. A curva de adoção da IA é tão estratégica quanto a ferramenta em si.

  • Critérios para uma IA responsável nas finanças

Explicabilidade, mitigação de viés e segurança de dados são critérios inegociáveis para adoção de IA no contexto financeiro. A evolução tecnológica precisa caminhar com responsabilidade técnica e ética.

Embora os avanços da IA estejam revolucionando o setor financeiro, é fundamental reconhecer os limites e responsabilidades associados ao uso dessa tecnologia.

Papel do profissional preservado

Thiago Mano, CPO e diretor de Inovação da Accountfy, alerta: “A IA depende da qualidade dos dados operacionais e contábeis. Há riscos de alucinação e interpretação errada de contexto por modelos generativos, mesmo que a evolução deles seja notória e que hoje já existam processos com guardrails para mitigar esse risco. O uso responsável envolve controles humanos e validações: a IA não substitui o julgamento técnico e estratégico, ela amplia a capacidade de decisão, mas não a automatiza”.

Portanto, a IA não elimina o papel do profissional financeiro, ela o potencializa, criando uma nova forma de gerir: mais estratégica, preditiva e alinhada aos desafios reais do negócio.

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