Cerca de 31 milhões de empregos e 12 áreas profissionais devem ser afetados pela inteligência artificial generativa (GenAI, na sigla em inglês). É o que mostra análise da consultoria LCA 4intelligence feita com base em estudo da OIT (Organização Internacional do Trabalho), divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo.
O estudo revela ainda que 5,4% dos trabalhadores brasileiros estão em ocupações com alto nível de exposição a esse tipo de tecnologia, como o ChatGPT, e podem ter suas funções automatizadas, impactando o número de contratações. Na comparação com o levantamento de 2012, houve aumento de 4,3%.
A lista inclui profissões como analista financeiro, agente e corretor de Bolsas de valores, desenvolvedor de páginas na internet, vendedor por telefone, entre outras.
“Apesar de o estudo indicar 13 carreiras, não existe uma restrição, a IA vai afetar todos os mercados, setores e profissões. De professores, financistas, gestores de todas as áreas e também e principalmente a área de tecnologia”, considera Francisco Borges, mestre em Educação e consultor de gestão e políticas públicas voltadas ao ensino da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT).
Novas oportunidades
Para ele, no entanto, as profissões não acabam, elas se modificam, evoluem e tendem a se tornar mais ágeis e motivadoras.
“O uso de IA vem do século passado na área de automação, agora tendo chegado ao segmento de serviços se aproxima mais do dia a dia do cidadão e, por isso, abre mais os olhos e traz mais percepções”, diz.
Daniel Marques, presidente da AB2L (Ass. Bras. Lawtechs e Legaltechs), destaca que é fato histórico que toda tecnologia disruptiva, da máquina a vapor à eletricidade, do computador à internet, eliminou funções, mas criou novas oportunidades.
“Com a inteligência artificial não será diferente. A pergunta correta não é ‘o que vamos perder?’, mas sim: quais são as novas profissões que podemos criar? Como preparamos o Brasil para um mercado global em mutação constante?”, questiona Marques.
O executivo avalia que é necessário formar desenvolvedores, especialistas em IA, engenheiros de dados, profissionais de cibersegurança, gestores de inovação, arquitetos de data centers, e sobretudo, lideranças capazes de pensar o futuro com ousadia.
FUTURO
Segundo Borges, o mercado de trabalho é sempre promissor – usar novas tecnologias alivia as atividades básicas e maçantes e por isso traz o cidadão para uma camada de mais conforto no seu dia a dia.
“Enquanto China e Estados Unidos já inseriram o ensino de ferramentas de IA como disciplina obrigatória desde o ensino básico, o Brasil ainda patina em diagnósticos e regulações desatualizadas. O que estamos fazendo? Como nossas universidades estão se adaptando a essa nova era?”, pergunta Marques.
Para ele, a verdadeira soberania tecnológica começa na sala de aula, cresce no mercado e se consolida nos ecossistemas de inovação.
“A pergunta não é apenas o que o mundo pode fazer por nós, mas o que podemos oferecer ao mundo como líderes dessa nova transformação? Sair do discurso de ‘Maria das dores’ e tomar as rédeas da própria história com a criação de programas e ações que coloquem a sociedade brasileira na fronteira e liderança da inovação”, recomenta Marques.
Dentro deste contexto, a pesquisa é essencial para mapear os desafios, entender os gaps regulatórios, educacionais e produtivos, e construir um Programa Nacional de Aceleração em Inteligência Artificial, com metas claras, recursos públicos e privados e engajamento de universidades, startups, empresas e o setor público. “Não basta acompanhar o futuro. É preciso projetá-lo”, finaliza Marques.
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